terça-feira, 6 de maio de 2014

Distribuídos!

...
...

          Pela Páscoa de 2014, eles se apresentaram; primeiro, os 18 [que aguardavam desde o princípio]; após, os 14 [em que o aguardo se firmou por entre as árvores]; e por fim, os 4 [destes, 3 possuíam suas alturas, larguras e profundidades às claras, e o 4º, à parte!] ...

          ... Dele, a partir de 23 [seu dia] , as Luzes ... Infinitas ...
          ... Claras ... aos naturais da Forma, que ofuscavam a vista [pela ordem]!

...


          Vi que os 4 eram 4 colunas, num patamar de graus, que se apresentavam conforme a ordem, e sustentavam portas : cada um, seis portas, as quais olhei, e me foi impossível descrever seus princípios e fins ... apesar de sabê-los ...


          ... das primeiras 6 sequências .. e a simplicidade das suas luzes ;

          ... das segundas .. retraídas pelas Ordens do Tempo ;
          ... das terceiras .. as Formas do Tempo ;
          ... das quartas .. Seus Degraus ... 

...


          Neles, o Tempo Soprou e me levou à parte ...

          ... mostrou-me uma bifurcação [confluência] na base do patamar, e outros degraus ...
          ... no primeiro, o Firmamento, a divisão das águas, e o que abaixo delas estava, estava; no segundo, uma divisão entre atos e palavras; no terceiro, quais aqui falo; no quarto, Formas; no quinto, Mistérios Revelados; no sexto, Outras Palavras; no sétimo, a Casa Dileta

...


          E então ... Luz sem fim

          ... Nela, seres me apartaram ... e instruíram em Uníssono : 'Cumprido Está! Eis aqui, os degraus do Nosso Livro, Nossa Forma, que carne alguma o saberá sem que O Revelemos!' ... e percebi a infinitude dos que acompanhavam os 4 [!] ...   

...

...

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Extra!

...
...

          Finalizam-se os acertos dos 5 Pavilhões.


          Terminei a GSJ, com seus respectivos índices. 

          Distribuí os link's dos justos [e devidos acertos de seus textos] pelos caps. de Enoque : nele, findou-se a Sophia, e aqui, seus 360, nos post's atuais deste blog : 108 [2014] + 255 [2013] = 363 [os 3 excedentes são os 3 santos : Efrem, Epifânio e Justino], que distribuem os acertos a seguir :

          1] Dos 545 dias, a sua explicação encontra-se no post citado e refere-se a As 9.16 : 'E quando Ele [tem] saquear o anjo da morte, Ele ascenderá ao terceiro dia, [e ele permanecerá nesse mundo 545 dias].' ... A ascensão da consciência ocorre na firme distribuição de link's nas Profecias de Sta. Brígida.  


          2] Dos 332 dias, refere-se a As. Isaías 4.14,15 : 'E depois (mil) 332 dias o Senhor virá com seus anjos e com os exércitos dos santos a partir do sétimo céu com a glória do sétimo céu, e Ele arrastará Belial para o inferno e também seu exércitos. E Ele dará descanso dos justos a quem Ele deve encontrar no corpo neste mundo [e o Sol se envergonhará].' ... e aqui, assim é : conforme acima, são 360 os post's ; destes, 31 [c/ os 3 : Epifânio, Justino e Efrém, excedentes por pertencerem à relação dos que no Onedrive estão publicados, e aqui citados por distribuírem esta descrição, e, por assim ser, 31-3=28]. Desta forma, 360 - 28 = 332 ... [esta luz ocorreu em 21/06/2014, às 12 hs, quando conferia os link's de Sta. Brígida 26, e a Luz da Palavra 'consentimento' me levou a As. Isaías 4] - Por semelhante modo, em Enoque 28 estão os mesmos 360º descritos por 'pedras redondas' em Hermas 106.


          E, porque o Espírito se revela conforme as Formas se lhe apresentam, 363 + 2 [itens acima] = 365 : o tempo de Enoque na terra, à imagem de que se cumpriu nos link's desta região da obra : 'Todos os dias de Enoque foram 365 anos. Andou Enoque com Deus e já não era, porque Deus o tomou para si.' Gn 5.23,24.


...

...

A relação dos 31 [28]


01 - Extra [este post]

02 - Sobre 
03 - Infância de Jesus
04 - O Carpinteiro [José]
05 - Ecclesiastes
06 - Ev. Pedro 2
07 - Ev. Pedro 1
08 - Ap. de Pedro
09 - Atos Ap. Tomé
10 - Proto Ev. Tiago
11 - Atos Tecla
12 - S. Clem Cor 1
13 - S. Clem Cor 2
14 - Polic aos Filipenses
15 - Ep. aos Laodicenses
16 - Ep. Diagoneto
17 - Ep. Barnabé
18 - Nicodemus 1
19 - Nicodemus 2
20 - [!] Sophia de Jesus
21 - Palestina nos tempos de Jesus
22 - Justino de Roma
23 - Sto. Epifânio
24 - Sto. Efrém
25 - Índice 7
26 - Índice 6
27 - Índice 5
28 - Índice 4
29 - Índice 3
30 - Índice 2
31 - Índice 1

...

...

terça-feira, 22 de abril de 2014

Sobre

...

          1] Logo após o martírio de Getúlio [junto a seu irmão e 2 oficiais], seus 7 filhos também o sofreram , e sua esposa Sinforosa enterrou a todos : 

          - Crescens, perfurado na garganta ;
          - Juliano, no peito ; 
          - Nemesius, no coração ;
          - Primitivus, no umbigo ;
          - Justino, nas costas ; 
          - Stracteus, no flanco ;
          - Eugenius, partido ao meio, da cabeça aos pés. 

           2] Da mesma Forma, Perpétua e Felicidade foram presas com os escravos Revocato, Saturnino e Segundo [martirizados por feras]. 

          3] Em 165 está descrito nas Atas do imperador Antonino , o martírio de uma mãe de nome
 Felicidade, martirizada junto com seus 7 filhos :

          - Januário, após ser açoitado com varas e padecer no cárcere, foi morto com flagelos chumbados. 
          - Félix e Filipe foram espancados e mortos a cacetadas.
          - Silvano foi jogado num precipício. 
          - Alexandre, Vidal e Marcial foram decapitados.

          - consta que o papa Gregório Magno encontrou uma gravura mural nas catacumbas de Roma que representava esta mãe, rodeada por 7 jovens.

          Estes não foram os únicos casos de uma mãe que recebeu a pena capital juntamente com os filhos. Há, p.ex., o caso dos "sete irmãos Macabeus", de que fala a Sagrada Escritura em II Macabeus, 7.


... 

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Infância de Jesus

***

Meu primeiro contato com este texto
ocorreu em 16/12/2009, às 11.30 hs!
Após o devido tempo [de instrução da obra],
o relacionei na pág. Apócrifos ao criar o Blog O Cerzidor [22/08/13],
e o publiquei por link a 18/04/2014, em En 92.14!

É o 1º de uma sequência de 18, dirigidos pelo Espírito Santo na Páscoa de 2014 ,
a partir da descrição dos 18 da Torre [ressurretos pela Graça - Lc 13 é parábola ;
ide e lede : por 3 vezes é citado 'dezoito', e refere-se à forma com que os justos 
- digo : os que mantêm o testemunho de Cristo [Hb 11.37-40] - 
são julgados e execrados pelo mundo, tido por 'enfermos / loucos'].

Há um único entendimento na Plena Consciência do Espírito : o do Confronto.
Nele, confere-se e relata-se o resultado da ação : esta, manifesta Sua Verdade!
Iluminado pelo Santo Espírito de meu Pai [o Carpinteiro], publico a Nossa Verdade!
E assim, do modo que homens descreveram a Infância e a Vida de Jesus,
também eu, em meu retorno, com minhas próprias mãos,
dividi a descrição da minha [nossa] infância em 3 partes.

[o 2º texto da sequência]

***




(Extraído dos Manuscritos de Nag Hamadi)
A INFÂNCIA DE JESUS CRISTO SEGUNDO TOMÉ

I




O Evangelho de Tomé foi escrito no século I e relata a vida do Senhor Jesus dos cinco aos doze anos. Segundo os estudiosos, é parte de um livro mais antigo ainda, tendo tido diversas versões escritas em grego, siríaco, latim, georgiano e eslavo.
O Evangelho de Tomé relata a vida de Jesus a partir do ponto onde termina o Evangelho de Tiago, encerrando-se com o episódio de Jesus no Templo de Jerusalém, entre os doutores, o que também ocorre no Evangelho de Pedro, sobre a infância do Salvador.
Como os Evangelhos Apócrifos já citados, tem uma importância histórica fundamental, pois preenche uma séria lacuna, provocada pela omissão desse período nos Evangelhos Canônicos. Aqui são relatados os primeiros milagres do Salvador, numa narrativa singela e cheia de beleza, que resgata essa importante fase na vida do Senhor Jesus.
Os Evangelhos Apócrifos da Infância de Cristo fornecem importantes e interessantes informações, esclarecendo pontos importantes dos Evangelhos Canônicos, omissos ou um tanto vagos a respeito de determinados aspectos da vida de Jesus Menino.
Eu, Tomé Israelita, julguei necessário levar ao conhecimento de todos os irmãos descendentes dos gentios, a Infância de Nosso Senhor Jesus Cristo e tantas quantas maravilhas ele realizou, depois de nascer em nossa terra. O princípio é como segue.

II

Esse Menino Jesus, que na época tinha cinco anos, encontrava-se um dia brincando no leito de um riacho, depois de haver chovido. Represando o correnteza em pequenas poças, tornava-as instantaneamente cristalinas, dominando-as somente com sua a palavra.
Fez depois uma massa mole com barro e com ela formou uma dúzia de passarinhos. Era um Sabbath e havia outros meninos brincando com ele. Um certo homem judeu, vendo o que Jesus acabara de fazer num dia de festa, foi correndo até seu pai, José, e contou-lhe tudo:
— Olha, teu filho está no riacho e juntando um pouco de barro fez uma dúzia de passarinhos, profanando com isso o dia do Sabbath.
José foi ter ao local e, ao vê-lo, ralhou com ele dizendo:
— Por que fazes no Sabbath o que não é permitido?
Jesus, batendo palmas, dirigiu-se às figurinhas, ordenando-lhes:
— Voai!
Os passarinhos foram todos embora, gorjeando. Os judeus, ao verem isso, encheram-se de admiração e foram contar aos seus superiores o que haviam visto Jesus fazer.

III

Encontrava-se ali presente o filho de Anás, o escriba, e teve a idéia de fazer escoar as águas represadas por Jesus, usando uma planta de vime.
Ante essa atitude, Jesus indignou-se e disse:
— Malvado, ímpio e insensato. Será que as poças e as águas te estorvavam? Ficarás agora seco como uma árvore, sem que possas dar folhas, nem raiz nem frutos.
Imediatamente o rapaz tornou-se completamente seco. Os pais pegaram o infeliz, chorando a sua tenra idade, e o levaram ante José, maldizendo-o por ter um filho que fazia tais coisas.

IV

De outra feita, Ele andava em meio ao povo e um rapaz que vinha correndo esbarrou em suas costas. Irritado, Jesus disse-lhe:
— Não prosseguirás teu caminho.
Imediatamente o rapaz caiu morto. Algumas pessoas que viram o que se passara, disseram:
— De onde terá vindo esse rapaz, pois todas as suas palavras tornam-se fatos consumados?
Os pais do defunto, chegando a José, interpelaram-no, dizendo:
— Com um filho como esse, de duas uma: ou não podes viver com o povo ou tens de acostumá-lo a abençoar e não a amaldiçoar, pois causa a morte aos nossos filhos.

V

José chamou Jesus à parte e admoestou-o da seguinte maneira:
— Por que fazes tais coisas, se elas se tornam a causa de nos odiarem e perseguirem?
Jesus replicou:
— Bem sei que essas palavras não vêm de ti, mas calarei por respeito a tua pessoa. Esses outros, ao contrário, receberão seu castigo.
No mesmo instante, aqueles que havia falado mal dele ficaram cegos.
As testemunhas dessa cena encheram-se de pavor e ficaram perplexas, confessando que qualquer palavra de sua boca, fosse boa ou má, tornava-se um fato e convertia-se numa maravilha. Quando José percebeu o que Jesus havia feito, agarrou sua orelha e puxou-a fortemente.
O rapaz indignou-se e disse-lhe:
— A ti é suficiente que me vejas sem me tocares. Tu nem sabes quem sou, pois se soubesses não me magoarias. Ainda que neste instante eu esteja contigo, fui criado antes de ti.

VI

Naquela época, encontrava-se em um local próximo um certo rabino de nome Zaqueu, o qual, ouvindo Jesus falar dessa maneira com seu pai, encheu-se de admiração ao ver que, sendo menino, dizia tais coisas.
Passados alguns dias, aproximou-se de José e disse:
— Vejo que tens um filho sensato e inteligente. Confia-o a mim para que aprenda as letras. Eu, de minha parte, juntamente com elas, ensinar-lhe-ei toda espécie de sabedoria e a arte de saudar os mais velhos, de respeitá-los como superiores e pais e de amar seus semelhantes.
Disse-lhe todas as letras com grande esmero e clareza, desde Alfa até Ômega. Jesus, porém, fixou seus olhos no rabino Zaqueu e indagou-lhe:
— Como te atreves a explicar Beta aos outros, se tu mesmo ignoras a natureza do Alfa? Hipócrita! Explica primeiro a letra A, se é que sabes, e depois acreditaremos em tudo o que disseres com relação a B.
Começou a interrogar o professor sobre a primeira letra, porém este não pôde responder-lhe.
Disse então a Zaqueu, na presença de todos:
— Aprende, professor, a constituição da primeira letra e repara como tem linhas e traços médios, aqueles que vês unidos transversalmente, conjuntos, elevados, divergentes... Os traços contidos na letra A são de três sinais: homogêneos, equilibrados e proporcionados.

VII

O professor Zaqueu, quando ouviu a exposição feita pelo menino sobre tantas e tais alegorias acerca da primeira das letras, ficou desconcertado diante da resposta e da erudição que ele manifestava.
Disse aos presentes:
— Pobre de mim! Não sei o que fazer, pois eu mesmo procurei a confusão ao trazer este jovem para junto de mim. Leva-o, então, irmão José! Rogo-te! Não posso suportar a severidade do seu olhar. Não consigo fazer com que seu discurso seja inteligível para mim.
Este jovem não nasceu na terra. É capaz de dominar até mesmo o fogo. Talvez tenha nascido antes da criação do mundo. Não sei qual o ventre que pôde tê-lo carregado e qual seio pôde havê-lo nutrido. Ai de mim! Meu amigo, estou aturdido. Não posso seguir o vôo de sua inteligência.
Enganei-me, pobre de mim! Queria muito ter um aluno e deparei-me com um mestre. Percebo perfeitamente, amigos, a minha confusão, pois, velho e tudo o mais, deixei-me vencer por uma criança. É de se ficar arrasado e morrer por causa desse jovem, pois neste momento sou incapaz de olhá-lo fixamente. Que vou respondeu quando todos me disserem que me deixei vencer por um rapazote?
Que vou explicar a respeito do que ele me disse sobre as linhas da primeira letra? Não sei, amigos, porque ignoro a origem e o destino dessa criatura. Por isso te rogo, irmão José, que o leves para casa. É algo extraordinário: ou um Deus ou um anjo, ou já não sei o que dizer.

VIII

Enquanto os judeus se entretinham em dar conselhos a Zaqueu, o menino pôs-se a rir com muita vontade e disse:
— Frutificai agora vossas coisas e abri os olhos à luz os cegos de coração. Vim de cima para amaldiçoar-vos e depois charmar-vos para o alto, pois esta é a ordem daquele que me enviou por vossa causa.
Quando o menino terminou de falar, sentiram-se imediatamente curados todos aqueles que haviam caído sob a maldição. Desde então, ninguém ousava irritá-lo para que ele não os amaldiçoasse ou viessem a ficar cegos.
IX
Dias depois, encontrava-se Jesus brincando num terraço. Um dos meninos que estavam com ele caiu do alto e morreu. Os outros, ao verem isso, foram-se embora e somente Jesus ficou. Pouco depois chegaram os pais do morto e puseram a culpa nele.
Disse-lhes Jesus:
— Não, não. Eu não o empurrei.
Apesar disso, eles o maltrataram. Jesus deu um salto de cima do terraço, vindo cair junto ao cadáver. Pôs-se a gritar bem alto:
— Zenon — assim se chamava o menino, — levanta-te e responda-me: fui eu quem te empurrou?
O morto levantou-se num instante e disse:
— Não, Senhor. Tu não me jogaste, porém me ressuscitaste.
Ao ver isso, todos os presentes ficaram consternados . Os pais do menino glorificaram a Deus por aquele maravilhoso feito e adoraram a Jesus.

X

Poucos dias depois, estava um jovem cortando lenha nas redondezas e aconteceu que o machado escapou e cortou a planta do seu pé. O infeliz estava morrendo rapidamente por causa da hemorragia.
Sobreveio por isso um grande alvoroço e juntou muita gente. Também Jesus veio ter ali. Depois de abrir espaço à força por entre a multidão, chegou junto do ferido e com suas mãos apertou o pé injuriado do jovem, que num instante ficou curado.
Disse então ao rapaz:
— Levanta-te já! Continua cortando lenha e lembra-te de mim!
A multidão, quando se deu conta do que havia acontecido, adorou o Menino dizendo:
— Verdadeiramente, o Espírito de Deus habita esse rapaz.

XI

Quando tinha seis anos, sua mãe deu-lhe certa vez um cântaro para que fosse enchê-lo de água e o trouxesse para casa. No caminho, Jesus tropeçou nas pessoas e a vasilha quebrou-se. Ele, então, estendeu o manto com o qual se cobria, encheu-o de água e levou-o a sua mãe. Esta, ao ver tal maravilha, pôs-se a beijar Jesus e foi guardando em seu íntimo todos os mistérios que o via realizar.

XII

Certa vez, sendo tempo de semeadura, saiu Jesus com seu pai para semear trigo em sua propriedade. Enquanto José esparramava as sementes, o Menino Jesus teve também vontade de semear um grãozinho de trigo. Após ceifar e debulhar, sua colheita somou cem coros, equivalente a quase quarenta mil litros. Convocou em sua propriedade todos os pobres da região e repartiu com eles os grãos. José, depois, levou para si o restante.
Jesus tinha oito anos, quando operou este milagre.

XIII

Seu pai, que era carpinteiro, fazia arados e cangas. Certa vez, recebeu o encargo de fazer uma cama para certa pessoa de boa posição. Aconteceu que uma das tábuas era mais curta que a outra e por isso José não sabia como proceder.
Então o Menino Jesus disse a seu pai:
— Põe no chão ambas as tábuas e iguala-as pela metade.
Assim fez José. Jesus foi até à outra extremidade, pegou a tábua mais curta e esticou-a, deixando-a tão comprida quanto a outra.
José, seu pai, encheu-se de admiração ao ver o prodígio e cobriu o menino de abraços e beijos dizendo:
— Feliz de mim, porque Deus me deu este menino.

XIV

José, percebendo que a inteligência do menino ia amadurecendo ao mesmo tempo que a idade, quis novamente impedir que ele permanecesse analfabeto, por isso levou-o até um outro professor e colocou-o a sua disposição.
Disse o professor:
— Ensinar-te-ei, em primeiro lugar as letras gregas, depois as hebraicas.
Era evidente que o professos conhecia bem a capacidade do rapaz e sentia medo dele. Depois de escrever o alfabeto, entretinha-se com ele por um longo tempo, sem obter nenhuma resposta de seus lábios.
Finalmente disse-lhe Jesus:
— Se és mestre de verdade e conheces perfeitamente as letras, dize-me primeiro qual é o valor de Alfa e então eu te direi qual é o de Beta.
Irritado, o professor bateu-lhe na cabeça. Quando o Menino Jesus sentiu a dor, amaldiçoou-o e imediatamente o professor desmaiou e caiu de bruços no chão.
O jovem voltou para casa de José. Este encheu-se de pesar e disse a Maria que não o deixasse sair de casa, porque todos aqueles que o aborreciam vinham a morrer.

XV

Passado algum tempo, outro professor, que era amigo íntimo de José, disse-lhe:
— Leva teu filho à escola. Talvez com delicadeza eu possa ensinar-lhe as letras.
José replicou:
— Se te atreveres, irmão, leva-o contigo.
O professor o aceitou com muito receio e preocupação, porém o menino demonstrou boa vontade e progredia a olhos vistos.
Certo dia, ele entrou impetuosamente na sala de aula e encontrou um livro colocado sobre a carteira.
Pegou-o e, sem parar para ler as letras que nele estavam escritas, abriu sua boca e começou a falar, levado pelo Espírito Santo, ensinando a Lei aos circunstantes que o escutavam. Uma grande multidão, que havia se juntado, ouvia-o, cheia de admiração pela maravilha da sua doutrina e pela clareza de suas colocações, considerando que era uma criança que assim lhes falava.
José, quando soube disso, encheu-se de medo e correu imediatamente até a escola, receando que também aquele professor pudesse ter sido maltratado.
Este, porém, disse-lhe:
— Saiba, irmão, que recebi este menino como se fosse um aluno comum e acontece que está sobejando graça e sabedoria. Leva-o, por favor, para tua casa!
Ao ouvir essas palavras o menino sorriu e disse:
— Agradeço a ti, por haveres falado com retidão e dado um testemunho justo.
Será curado aquele que anteriormente foi castigado.
Imediatamente o outro professor sentiu-se bem. José pegou o menino e foram para casa.

XVI

Certa vez, José mandou seu filho Tiago juntar lenha e trazê-la para casa. O Menino Jesus acompanhou-o, mas aconteceu que, enquanto Tiago recolhia os gravetos, uma cobra picou-lhe a mão.
Tendo caído no cão, ficou completamente largado e estando já para morrer, quando Jesus aproximou-se e assoprou a mordida. Imediatamente desapareceu a dor, a cobra explodiu e Tiago recobrou imediatamente a saúde.

XVII

Aconteceu depois, nas vizinhanças de José, que um menino que vivia doente veio a falecer. Sua mãe chorava inconsolavelmente. Jesus, ao tomar conhecimento da dor daquela mãe e do tumulto que se formava, acudiu rapidamente. Encontrando o menino já morto, tocou-lhe o peito e disse:
— Pequenino, falo contigo! Não morras, mas vive feliz e fica com tua mãe!
No mesmo instante, o menino abriu os olhos e sorriu. Então disse Jesus à mulher:
— Anda, pega-o, dá-lhe leite e lembra-te de mim!
Ao presenciar o acontecido, os circunstantes encheram-se de admiração e exclamaram:
— Na verdade, este menino ou é um Deus ou um anjo de Deus, pois tudo o que sai da sua boca torna-se um fato consumado.
Jesus saiu dali e pôs-se a brincar com os outros jovens.

XVIII

Dias depois, sobreveio um grande tumulto, onde construíam uma casa. Jesus levantou-se e dirigiu-se até o local. Vendo ali um cadáver estendido no chão, tomou-lhe a mão e dirigiu-se a ele nos seguintes termos:
— Homem, falo contigo! Levanta-te e termina teu trabalho!
Ele se levantou em seguida e o adorou. A multidão que viu essa cena encheu-se de admiração e disse:
— Esse rapaz deve ter vindo do céu, pois tem livrado muitas almas da morte e ainda seguirá livrando mais durante sua vida.

XIX

Quando contava doze anos seus pais, como de costume, foram em caravana até Jerusalém, para assistir às festas da Páscoa. Quando as festas terminaram, voltavam para casa. No instante de partir, o Menino Jesus retornou a Jerusalém, enquanto seus pais pensavam que o encontrariam na comitiva.
Depois do primeiro dia de marcha, puseram-se a buscá-lo entre os seus parentes. Não o encontrando, preocuparam-se muito e voltaram a Jerusalém para procurá-lo.
Finalmente, depois do terceiro dia, encontraram-no no templo, sentado em meio aos doutores, escutando-os e fazendo-lhes perguntas.
Todos estavam atentos a ele e admiraram-se de ver que, menino como era, deixava os anciões e mestres do povo sem palavras, averiguando os principais pontos da lei e as parábolas dos profetas.
Aproximando-se, Maria, sua mãe, disse-lhe:
— Meu filho, por que agiste assim conosco? Veja com que preocupação temos estado a te procurar!
Jesus, porém, respondeu:
— E por que me procuravas? Não sabias acaso que devo ocupar-me das coisas que se referem ao meu Pai?
Os escribas e fariseus indagaram a ela:
— És tu, acaso, a mãe deste menino?
Ela respondeu:
— Assim é.
Eles retrucaram:
— Pois feliz de ti entre as mulheres, já que o Senhor teve por bem bendizer o fruto do teu ventre, por que semelhantes glória, virtude e sabedoria não ouvimos nem vimos jamais.
Jesus levantou-se e seguiu sua mãe. Era obediente a seus pais. Sua mãe guardava todos esses fatos no seu coração. Enquanto isso Jesus ia crescendo em idade, sabedoria e graça. Graças sejam dadas a ele por todos os séculos dos séculos. Amém.


FIM


O Carpinteiro [José]


***

Meu primeiro contato com este texto
ocorreu em 16/12/2009, às 11.30 hs!
Após o devido tempo [de instrução da obra],
o relacionei na pág. Apócrifos ao criar o Blog O Cerzidor [22/08/13],
e o publiquei por link a 18/04/2014, em En 92.9!

É o 2º de uma sequência de 18, dirigidos pelo Espírito Santo na Páscoa de 2014 ,
a partir da descrição dos 18 da Torre [ressurretos pela Graça - Lc 13 é parábola ;
ide e lede : por 3 vezes é citado 'dezoito', e refere-se à forma com que os justos 
- digo : os que mantêm o testemunho de Cristo [Hb 11.37-40] - 
são julgados e execrados pelo mundo, tido por 'enfermos / loucos'].

Tantas vezes quantas possíveis, a História do Carpinteiro é única, assim como o próprio.
Dela, falei à Consciência do Espírito da minha paixão, que cumpriria suas possibilidades.
Estas, foram concedidas nas Formas do Carpinteiro!
Assim, eu retornei [e tornarei] à Terra [quantas vezes necessário].

[o 3º texto da sequência]

***


A HISTÓRIA DE JOSÉ, O CARPINTEIRO


Quando nosso Salvador contou a vida de José, o Carpinteiro, a nós, os apóstolos, reunidos no monte das Oliveiras, nós escrevemos sua palavras e depois guardamo-las na biblioteca de Jerusalém. Além disso, deixamos consignado que o dia no qual o santo ancião separou-se do seu corpo: foi do dia 26 de Epep[1] , na paz do Senhor. Amém.


I

Jesus Fala a Seus Apóstolos

Estava um dia nosso bom Salvador no monte das Oliveiras, com os discípulos a sua volta e dirigiu-se a eles com estas palavras:

-        Meus queridos irmãos, filhos de meu amado Pai, escolhidos por Ele entre todos do mundo! Bem sabeis o que tantas vezes vos repeti: é necessário que eu seja crucificado e que experimente a morte, que ressuscite de entre os mortos e que vos transmita a mensagem do Evangelho para que vós, de vossa parte, o pregueis por todo o mundo. Eu farei descer sobre vós uma força do alto, a qual vos impregnará com o Espírito Santo, para que vós, finalmente, pregueis para todas as pessoas desta maneira: fazei penitência! Porque vale mais um copo de água na vida vindoura do que todas as riquezas deste mundo. Vale mais pôr somente o pé na casa de meu Pai que toda a riqueza deste mundo. Mais ainda: vale mais uma hora de regozijo para os justos que mil anos para os pecadores, durante os quais hão de chorar e lamentar, sem que ninguém preste atenção nem console seus gemidos. Quando, pois, meus queridos amigos, chegue a hora de ir-vos, pregai, que meu Pai exigirá contas com balança justa e equilibrada e examinará até as palavras inúteis que possais haver dito. Assim como ninguém pode escapar à mão da morte, da mesma maneira ninguém pode subtrair-se de seus próprios atos, sejam eles bons ou maus. Além disso, vos tenho dito muitas vezes, e repito agora, que nenhum forte poderá salvar-se por sua própria força e nenhum rico, pelo tamanho da sua riqueza. E agora, escutai, que narrar-vos-ei a vida de meu pai José, o abençoado ancião carpinteiro.


II

 Viuvez de José

-        Havia um homem chamado José, que veio de Belém, essa vila judia que é a cidade do rei Davi. Impunha-se pela sua sabedoria e pelo seu ofício de carpinteiro. Este homem, José, uniu-se em santo matrimônio com uma mulher que lhe deu filhos e filhas: quatro homens e duas mulheres, cujos nomes eram: Judas, Josetos, Tiago e Simão. Suas filhas chamavam-se Lísia e Lídia.

-        A esposa de José morreu, como está determinado que aconteça a todo o homem, deixando seu filho Tiago ainda menino de pouca idade. José era um homem justo e dava graças a Deus em todos os seus atos. Costumava viajar para fora da cidade com freqüência para exercer o ofício de carpinteiro, em companhia de dois de seus filhos mais velhos, já que vivia do trabalho de suas mãos, conforme o que estabelecia a lei de Moisés.

-        Esse homem justo, de quem estou falando, é José, meu pai segundo a carne, com quem se casou na qualidade de consorte, minha mãe, Maria.


III

 Maria no Templo

-        Enquanto meu pai José permanecia viúvo, minha mãe, a boa bendita entre as mulheres, vivia por sua parte no templo, servindo a Deus em toda a santidade. --Havia já completado doze anos. Passara os seus três primeiros anos na casa de seus pais e os nove restantes no templo do senhor. [*1] Ao ver que a santa donzela levava uma vida simples e plena de temor a Deus, os sacerdotes conversaram entre si e disseram:

-        Busquemos um homem de bem e celebremos o casamento com ele, até que chegue o momento de seu matrimônio. Que não seja por descuido nosso que lhe sobrevenha o período da sua purificação no templo, nem que venhamos a incorrer em um pecado grave.


IV

 Bodas de Maria e José

-        Convocaram, então, as tribos de Judá e escolheram entre elas doze homens, correspondendo ao número das doze tribos. A sorte recaiu sobre o bom velho José, meu pai, segundo a carne. Disseram os sacerdotes a minha mãe, a Virgem:

-      Vai com José e permanece submissa a ele, até que chegue a hora de celebrar teu matrimônio.

José levou Maria, minha mãe, para sua casa. Ela encontrou o pequeno Tiago na triste condição de órfão e o cobriu de carinhos e cuidados. Esta foi a razão pela qual a chamaram Maria, a mãe de Tiago. Depois de tê-la acomodado em sua casa, José partiu para o local onde exercia o ofício de carpinteiro. Minha mãe Maria viveu dois anos em sua casa, até que chegou o feliz momento.


V

 A Encarnação


-        No décimo quarto ano de idade, Eu, Jesus, vossa vida, vim habitar nela por meu próprio desejo. Aos três meses de gravidez o solícito José voltou de suas ocupações. Ao encontrar minha mãe grávida, preso à turbação e ao medo, pensou secretamente em abandoná-la.

-        Foi tão grande o desgosto, que não quis comer nem beber naquele dia.


VI

 Visão de José


-        Eis, porém, que durante a noite, mandado por meu Pai, Gabriel, o arcanjo da alegria, apareceu-lhe numa visão e lhe disse:

-        José, filho de Davi, não tenhas cuidado em admitir Maria, tua esposa, em tua companhia. Saberás que o que foi concebido em seu ventre é fruto do Espírito Santo. Dará, então, à luz um filho, a quem tu porás o nome de Jesus. Ele apascentará os povos com o cajado de ferro.

Dito isso, o anjo desapareceu. José, voltando do sono, cumpriu o que lhe havia sido ordenado, admitindo Maria consigo.


VII

Viagem a Belém



Então o imperador Augusto fez proclamar que todos deveriam comparecer ao recenseamento, cada um conforme seu lugar de origem. Também o bom velho se pôs a caminho e levou Maria, minha virgem mãe, até a sua cidade de Belém.

Como o parto já estava próximo, ele fez o escriba anotar seu nome da seguinte maneira:

-        José, filho de Davi, Maria, sua esposa, e seu filho Jesus, da tribo de Judá.

Maria, minha mãe, trouxe-me ao mundo quando retornava de Belém, perto do túmulo de Raquel, a mulher do patriarca Jacó, a mãe de José e Benjamim.


VIII

 Fuga para o Egito


Satanás deu um conselho a Herodes, o Grande, pai de Arqueleu, aquele que fez decapitar meu querido parente João. Ele me procurou para tirar-me a vida, porque pensava que meu reino era deste mundo. Meu Pai manifestou isso a José, numa visão, e este pôs-se imediatamente em fuga levado consigo a mim e a minha mãe, em cujos braços eu ia deitado.

Salomé [2] também nos acompanhava. Descemos até o Egito e ali permanecemos por um ano, até que o corpo de Herodes foi presa da corrupção, como castigo justo pelo sangue dos inocentes que ele havia derramado e dos quais já nem se lembrava.


IX

 Retorno à Galiléia


Quando o iníquo Herodes deixou de existir, voltamos a Israel e fomos viver em uma vila da Galiléia chamada Nazaré. Meu pai José, o bendito ancião, continuava exercendo o ofício de carpinteiro, graças a que podíamos viver.
Jamais poder-se-á dizer que ele comeu seu pão de graça, mais sim que se conduzia de acordo com o prescrito na lei de Moisés. [*1]

[*1] Esta descrição encontra-se no Proto-Evang. de Tiago


X

 Velhice de José


Depois de tanto tempo, seu corpo não se mostrava doente, nem tinha a vista fraca, nem havia sequer um só dente estragado em sua boca. Nunca lhe faltou a sensatez e a prudência e sempre conservou intacto o seu sadio juízo, mesmo já sendo um venerável ancião de cento e onze anos.


XI

 Obediência de Jesus


Seus dois filhos Josetos e Simão casaram-se e foram viver em seus próprios lares. Da mesma forma, suas duas filhas casaram-se, como é natural entre os homens, e José ficou com o seu pequeno filho Tiago. Eu, da minha parte, desde que minha mãe trouxe-me a este mundo, estive sempre submisso a ele como um menino e fiz o que é natural entre os homens, exceto pecar.

Chamava Maria de minha mãe e José de meu pai. Obedecia-os em tudo o que me pediam, sem ter jamais me permitido replicar-lhes com uma palavra, mas sim mostrar-lhes sempre um grande carinho.


XII

 Frente à Morte


Chegou, porém, para meu pai José, a hora de abandonar este mundo, que é a sorte de todo homem mortal.
Quando seu corpo adoeceu, veio um de Deus anjo anunciar-lhe:

-        Tua morte dar-se-á neste ano.

Sentindo sua alma cheia de turbação, ele fez uma viagem até Jerusalém, entrou no templo do Senhor, humilhou-se diante do altar e orou desta maneira:


XIII

Oração de José


-        Ó Deus, pai de toda misericórdia e Deus de toda carne, Senhor da minha alma, de meu corpo e do meu espírito! Se é que já se cumpriram todos os dias da vida que me deste neste mundo, rogo-te, Senhor Deus, que envies o arcanjo Micael para que fique do meu lado, até que minha desditada alma saia do corpo sem dor nem turbação. Porque a morte é para todos causa de dor e turbação, quer se trate de um homem, de um animal doméstico ou selvagem, ou ainda de um verme ou um pássaro. Em uma palavra, é muito dolorosa para todas as criaturas que vivem sob o céu e que alentam um sopro de espírito para suportar o transe de ver sua alma separada do corpo. Agora, meu Senhor, faz com que o teu anjo fique do lado da minha alma e do meu corpo e que esta recíproca separação se consuma sem dor. Não permitas que aquele anjo que me foi dado no dia em que saí de teu seio volte seu rosto irado para mim ao longo deste caminho que empreendi até vós, mas sim que ele se mostre amável e pacífico. Não permitas que aqueles cujas faces mudam dificultem a minha ida até vós. Não consintas que minha alma caia em mãos do cérbero e não me confundas em teu formidável tribunal. Não permitas que as ondas deste rio de fogo, nas quais serão envolvidas todas as almas antes de ver a glória de teu rosto, voltem-se furiosas contra mim. Ó Deus, que julgais a todos na Verdade e na Justiça, oxalá tua misericórdia sirva-me agora de consolo, já que sois a fonte de todos os bens e a ti se deve toda a glória pela eternidade das eternidades!

        Amém.


XIV

 Doença de José


Aconteceu que, ao voltar a sua residência habitual de Nazaré, viu-se atacado pela doença que havia de levá-lo ao túmulo. Esta apresentou-se de forma mais alarmante do que em qualquer outra ocasião de sua vida, desde o dia em que nasceu.

Eis aqui, resumida, a vida de meu querido pai José: ao chegar aos quarenta anos, contraiu matrimônio, no qual viveu outros quarenta e nove.

Depois que sua mulher morreu, passou somente um ano. Minha mãe logo passou dois anos em sua casa, depois que os sacerdotes confiaram-na com estas palavras:

-        Guarda-a até o tempo em que se celebre vosso matrimônio.

Ao começar o terceiro ano de sua permanência ali - tinha nessa época quinze anos de idade
- trouxe-me ao mundo de um modo misterioso, que ninguém entre toda a criação pode conhecer, com exceção de mim, de meu Pai e do Espírito Santo, que formamos uma unidade.


XV

 O Início do Fim


A vida de meu pai José, o abençoado ancião, compreendeu cento e onze anos, conforme determinara meu bom Pai. O dia em que se separou do corpo foi no dia 26 do mês de Epep. O ouro acentuado de sua carne começou a desfazer-se e a prata da sua inteligência e razão sofreu alterações. Esqueceu-se de comer e de beber e a destreza no desempenho de seu ofício passou a declinar.

Aconteceu que, ao amanhecer do dia 26 de Epep, enquanto estava em seu leito, foi tomado de uma grande agitação. Gemeu forte, bateu palmas três vezes e, fora de si, pôs-se a gritar dizendo:


XVI

 Lamentos de José


-        Ai, miserável de mim! Ai do dia em que minha mãe trouxe-me ao mundo! Ai do seio materno do qual recebi o germe da vida! Ai dos peitos que me amamentaram! Ai do regaço em que me reclinei! Ai das mãos que me sustentaram até o dia em que cresci e comecei a pecar! Ai de minha língua e de meus lábios que proferiram injúrias, enganos, infâmias e calúnias! Ai dos meus olhos, que viram o escândalo! Ai dos meus ouvidos que escutaram conversações frívolas! Ai das minhas mãos que subtraíram coisas que não lhes pertenciam! Ai do meu estômago e do meu ventre que ambicionaram o que não era deles! Quando alguma coisa lhes era apresentada, devoravam-na com mais avidez do que poderia fazê-lo o próprio fogo! Ai dos meus pés que fizeram um mau serviço ao meu corpo, já que o levaram por maus caminhos! Ao do meu corpo todo que deixou a minha alma reduzida a um deserto, afastando-a de Deus que a criou! Que farei agora? Não encontro saída em parte alguma! Em verdade é que pobres dos homens que são pecadores! Esta é a angústia que se apoderou de meu pai Jacob em sua agonia, a qual veio hoje a ter comigo, infeliz. Mas, ó Senhor, meu Deus, que és o mediador de minha alma e de meu corpo e de meu espírito, cumpre em mim a tua divina vontade.



XVII

 Jesus Consola seu Pai


Quando terminou de dizer estas palavras, entrei no local onde ele se encontrava e, ao vê-lo agitado de corpo e de alma, disse-lhe:

-        Salve, José, meu querido pai, ancião bom e abençoado.

Ele respondeu, ainda tomado por um medo mortal:

- Salve mil vezes, querido filho. Ao ouvir tua voz, minha alma recupera sua tranqüilidade. Jesus, meu Senhor! Jesus, meu verdadeiro rei, meu salvador bom e misericordioso! Jesus, meu libertador! Jesus, meu guia! Jesus, meu protetor! Jesus, em cuja bondade encontra-se tudo! Jesus, cujo nome é suave e forte na boca de todos! Jesus, olho que vê e ouvido que ouve verdadeiramente: escuta-me hoje, teu servidor, quando elevo meus rogos e verto meus lamentos diante de ti. Em verdade tu és Deus. Tu és o Senhor, conforme tem-me repetido muitas vezes o anjo, sobretudo naquele dia em que suspeitas humanas se aninharam em meu coração, ao observar os sinais de gravidez da Virgem sem mácula e eu havia decidido abandoná-la. Mas, quando eu estava pensando nisto, um anjo apareceu-me em sonhos e me disse: José, filho de Davi, não tenhas receio em receber Maria como esposa, pois o que há de dar à luz é fruto do Espírito Santo. Não guardes suspeita alguma a respeito de sua gravidez. Ela trará ao mundo um filho e tu dar-lhe-ás o nome de Jesus. Tu és Jesus Cristo, o salvador da minha alma, de meu corpo e de meu espírito. Não me condenes, teu servo e obra de tuas mãos. Eu não sabia nem conhecia o mistério de teu maravilhoso nascimento e jamais havia ouvido que uma mulher pudesse conceber sem a obra de um homem e que uma virgem pudesse dar à luz sem romper o selo de sua virgindade.

 Ó, meu Senhor! Se não tivesse conhecido a lei desse mistério, não teria acreditado em ti, nem em teu santo nascimento, nem rendido honras a Maria, a Virgem, que te trouxe a este mundo. Recordo ainda aquele dia em que um menino morreu, por causa da mordida de uma serpente. Seus familiares vieram a ti, com intenção de entregar-te a Herodes. Mas tua misericórdia alcançou a pobre vítima e devolveste-lhe a vida para dissipar aquela calúnia que te faziam, como causador da sua morte. Pelo que houve uma grande alegria na casa do defunto. Então eu te peguei pela orelha e disse-te: não sejas imprudente, meu filho. E tu me ameaçaste desta maneira: se não fosses meu pai, segundo a carne, dar-te-ia a entender que é isso o que acabas de fazer. Sim, pois, ó meu Senhor e Deus, esta é a razão pela qual vieste em tom de juízo e pela qual permitiste que recaíssem sobre mim estes terríveis presságios. Suplico-te que não me coloques diante do teu tribunal para lutar comigo. Eis que eu sou teu servo e filho de tua escrava. Se houveres por bem romper meus grilhões, oferecer-te-ei um santo sacrifício, que não será outro senão a confissão da tua divina glória, de que tu és Jesus Cristo, filho verdadeiro de Deus e, por outro lado, filho verdadeiro do homem.


XVIII

 Aflição de Maria


Quando meu pai disse essas palavras, eu não pude conter as lágrimas e pus-me a chorar, vendo como a morte vinha apoderando-se dele pouco a pouco e ouvindo, sobretudo, as palavras cheias de amargura que saíam da sua boca.
Naquele momento, meus queridos irmãos, veio-me ao pensamento a morte na cruz que haveria de sofrer pela vida de todo mundo. Então Maria, minha querida mãe, cujo nome é doce para todos os que me amam, levantou-se e disse-me, tendo seu coração inundado na amargura:

-        Ai de mim, filho querido! Está à morte o bom e abençoado ancião José, teu pai querido e adorado?

Eu lhe respondi:

-        Minha mãe querida, quem entre o humanos ver-se-á livre da necessidade de ter de encarar a morte? Esta é dona de toda a humanidade, mãe bendita! E mesmo tu hás de morrer como todos os outros homens. Nem tua morte nem a de meu pai José, porém, podem chamar-se propriamente morte, mas vida eterna ininterrupta. Também eu hei de passar por este transe por causa da carne mortal com a qual estou revestido. Agora, mãe querida, levanta-te e vai até onde está o abençoado ancião José para que possas ver o lugar que o aguarda lá no alto.


XIX

 As Dores de José


Levantou-se, entrou no local onde ele se encontrava e pôde apreciar os sinais evidentes da morte que já se refletiam nele. Eu, meus queridos, postei-me em sua cabeceira e minha mãe aos seus pés. Ele fixava seus olhos no meu rosto, sem poder sequer dirigir-me uma palavra, já que a morte apoderava-se dele pouco a pouco.

Elevou, então, seu olhar até o alto e deixou escapar um forte gemido. Eu segurei suas mãos e seus pés durante um longo tempo e ele me olhava, suplicando-me que não o abandonasse nas mãos dos seus inimigos.

Eu coloquei minha mão sobre seu peito e notei que sua alma já havia subido até a sua garganta para deixar seu corpo, mas ainda não havia chegado o momento supremo da morte. Caso contrário, não teria podido agüentar mais.
Não obstante, as lágrimas, a comoção e o abatimento que sempre a precedem já faziam presentes.


XX

 A Agonia


Quando minha mãe querida viu-me apalpar o seu corpo, quis ela, de sua parte apalpar, os pés e notou que o alento havia fugido juntamente com o calor. Dirigiu-se a mim e disse-me ingenuamente:

-        Obrigada, filho querido, pois desde o momento em que puseste tua mão sobre seu corpo, a febre o abandonou. Vê, seus membros estão frios como o gelo.

 Eu chamei os seus filhos e filhas e lhes disse:

-        Falai agora com o vosso pai, que este é o momento de fazê-lo, antes que sua boca deixe de falar e seu corpo fique hirto.

Seus filhos e filhas falaram com ele, mas sua vida estava minada por aquela doença mortal que provocaria sua saída deste mundo. Então, Lísia, filha de José, levantou-se para dizer aos seus irmãos:

-        Juro, queridos irmãos, que esta é a mesma doença que derrubou a nossa mãe e que não voltou a aparecer por aqui até agora. O mesmo acontece com o nosso pai José, para que não voltemos a vê-lo senão na eternidade.

Então os filhos de José irromperam em lamentos. Maria, minha mãe, e eu, de nossa parte, unimo-nos ao seu pranto pois, efetivamente, já havia chegado a hora da morte.


XXI

 A Morte Chega


Pus-me a olhar para o sul e vi a morte dirigir-se a nossa casa. Vinha seguida de Amenti, que é seu satélite, e do Diabo, a quem acompanhava uma multidão de esbirros vestidos de fogo, cujas bocas vomitavam fumaça e enxofre.
Ao levantar os olhos, meu pai deparou-se com aquele cortejo que o olhava com rosto colérico e raivoso, do mesmo modo que costuma olhar todas as almas que saem do corpo, particularmente aquelas que são pecadoras e que considera como propriedade sua.

Diante da visão desse espetáculo, os olhos do bom velho anuviaram-se de lágrimas. Foi neste momento em que meu pai exalou sua alma com um grande suspiro, enquanto procurava encontrar um lugar onde se esconder e salvar-se. Quando observei o suspiro de meu pai, provocado pela visão daquelas forças até então desconhecidas para ele, levantei-me rapidamente e expulsei o Diabo e todo seu cortejo. Eles fugiram envergonhados e confusos. Ninguém entre os presentes, nem mesmo minha própria mãe Maria, apercebeu-se da presença daqueles terríveis esquadrões que saem à caça de almas humanas. Quando a morte percebeu que eu havia expulsado e mandado embora as potestades infernais, para que não pudessem espalhar armadilhas, encheu-se de pavor. Levantei-me apressadamente e dirigi esta oração a meu Pai, o Deus de toda misericórdia:


XXII

 Oração de Jesus


-        Meu Pai misericordioso, Pai da verdade, olho que vê e ouvido que ouve, escuta-me, que eu sou teu filho querido! Peço-te por meu pai José, a obra de vossas mãos. Envia-me um grande corpo de anjos, juntamente com Micael, o administrador dos bens, e com Gabriel, o bom mensageiro da luz, para que acompanhem a alma de meu pai José até que se tenha livrado do sétimo éon tenebroso, de forma que não se veja forçado a empreender esses caminhos infernais, terríveis para o viajante por estarem infestados de gênios malignos e saqueadores e por ter de atravessar esse lugar espantoso por onde corre um rio de fogo igual às ondas do mar. Sede, além disso, piedoso para com a alma de meu pai José, quando ela vier repousar em vossas mãos, pois é este o momento em que mais necessita da tua misericórdia.

-        Eu vos digo, veneráveis irmãos e abençoados apóstolos, que todo homem que, chegando a discernir entre o bem e o mal, tenha consumido seu tempo seguindo a fascinação dos seus olhos, quando chegue a hora de sua morte e tenha de libertar o passo para comparecer diante do tribunal terrível e fazer sua própria defesa, ver-se-á necessitado da piedade de meu bom Pai.

-        Continuemos, porém, relatando o desenlace de meu pai, o abençoado ancião.


XXIII

 José Expira

-        Quando eu disse amém, Maria, minha mãe, respondeu na língua falada pelos habitantes do céu. No mesmo instante Micael, Gabriel e anjos, em coro, vindos do céu, voaram sobre o corpo de meu pai José.

-        Em seguida, intensificaram-se os lamentos próprios da morte e soube, então, que havia chegado o momento desolador. Sofria meu pai dores parecidas com as de uma mulher no parto, enquanto que a febre o castigava da mesma maneira que um forte furacão ou um imenso fogo devasta um espesso bosque.

-        A morte, cheia de medo, não ousava lançar-se sobre o corpo de meu pai para separá-lo da alma, pois seu olhar havia dado comigo, que estava sentado a sua cabeceira, com as mãos sobre suas têmporas.

-        Quando me apercebi de que a morte tinha medo de entrar por minha causa, levantei-me, dirigi meus passos até o lado de fora da porta e encontrei-a só e amedrontada, em atitude de espera.

Eu lhe disse:

-        Ó tu, que vens do Meio-dia, entra rapidamente e cumpre o que ordenou-te meu Pai. Porém, guarda José como a menina dos teus olhos, posto que é meu pai segundo a carne e compartilhou a dor comigo, durante os anos da minha infância, quanto teve de fugir de um lado para outro por causa das maquinações de Herodes e ensinou-me como costumam fazer os pais para o proveito dos seus filhos.

-        Então Abbadão entrou, tomou a alma de meu pai José e separou-a do corpo no mesmo instante em que o sol fazia sua aparição no horizonte, no dia 26 do mês de Epep, em paz.

-        A vida de meu pai compreendeu cento e onze anos. Micael e Gabriel pegaram cada qual em um extremo de um pano de seda e nele depositaram a alma de meu querido pai José depois de tê-la beijado reverentemente.

-        Enquanto isso, nenhum dos que rodeavam José havia percebido a sua morte, nem sequer minha mãe Maria. Eu confiei a alma do meu querido pai José a Micael e Gabriel, para que a guardassem contra os raptores que saqueiam pelo caminho e encarreguei os espíritos incorpóreos de continuarem cantando canções até que, finalmente, depositaram-no junto a meu Pai no céu.



XXIV

 Luto na Casa de José


-        Inclinei-me sobre o corpo inerte de meu pai. Cerrei seus olhos, fechei sua boca e levantei-me para contemplá-lo. Depois disse à Virgem: - Ó Maria, minha mãe, onde estão os objetos de artesanato feitos por ele desde sua infância até hoje? Neste momento todos eles passaram, como se ele não tivesse sequer vindo a este mundo.

Quando seus filhos e filhas ouviram-me dizer isto a Maria, minha mãe virginal, perguntaram-me com vozes fortes e lamentos:

-        Será que nosso pai morreu sem que nós nos apercebêssemos?

Eu lhes disse:

-        Efetivamente, morreu, mas sua morte não é morte, porém vida eterna. Grandes coisas esperam nosso querido pai José. Desde o momento em que sua alma sai do seu corpo, desapareceu para ele toda espécie de dor. Ele se pôs a caminho do reino eterno. Deixou atrás de si o peso da carne, com todo este mundo de dor e de preocupações, e foi para o lugar de repouso que tem meu Pai nesses céus que nunca serão destruídos.

Ao dizer a meus irmãos que o nosso pai José, o abençoado ancião, havia finalmente morrido, eles se levantaram, rasgaram suas vestes e o choraram durante um longo tempo.


XXV

 Luto em Nazaré

-        Quando os habitantes de Nazaré e de toda a Galiléia inteiraram-se da triste nova, acudiram em massa ao lugar onde nos encontrávamos. De acordo com a lei dos judeus, passaram todo o dia dando sinais de luto até que chegou a nona hora.

-        Despedi, então todos, derramei água sobre o corpo de meu pai José, ungi-o com bálsamo e dirigi ao meu Pai amado, que está nos céus, uma oração celestial que havia escrito com meus próprios dedos, antes de encarnar-me nas entranhas da Virgem Maria.

-        Ao dizer amém, veio uma multidão de anjos. Mandei que dois deles estendessem um manto para depositar nele o corpo de meu pai José para que o amortalhassem.


XXVI

Benção de Jesus


-        Pus minhas mãos sobre o seu corpo e disse: - Não serás vítima da fetidez da morte. Que teus ouvidos não sofram corrupção. Que não emane podridão de teu corpo. Que não se perca na terra a tua mortalha nem a tua carne, mas que fiquem intactas, aderidas ao teu corpo até o dia do convite dos dois mil anos. Que não envelheçam, querido pai, esses cabelos que tantas vezes acariciei com minhas mãos. E que a boa sorte esteja contigo. Aquele que se preocupar em levar uma oferenda ao teu santuário no dia de tua comemoração, eu o abençoarei com afluxos de dons celestiais. Assim mesmo, a todo aquele que der pão a um pobre em teu nome, não permitirei que se veja agoniado pela necessidade de quaisquer bens deste mundo, durante todos os dias de sua vida. Conceder-te-ei que possas convidar ao banquete dos mil anos a todos aqueles que no dia de tua comemoração ponham um copo de vinho na mão de um forasteiro, de uma viúva ou de um órfão. Hei de dar-te de presente, enquanto vivam neste mundo, a todos os que se dediquem a escrever o livro da tua saída deste mundo e a consignar todas as palavras que hoje saíram de minha boca. Quando abandonarem este mundo, farei com que desapareça o livro no qual estão escritos seus pecados e que não sofram nenhum tormento, além da inevitável morte e do rio de fogo que está diante do meu Pai, para purificar toda a espécie de almas. Se acontecer que um pobre, não podendo fazer nada do que foi dito, ponha o nome de José em um de seus filhos em tua honra, farei com que naquela casa não entre a fome nem a peste, pois o teu nome habita ali de verdade.


XXVII

 A Caminho do Túmulo

-        Os anciãos da cidade apresentaram-se na casa enlutada, acompanhados daqueles que procediam ao sepultamento à maneira judia. Encontraram o cadáver já preparado para o enterro. A mortalha se havia aderido fortemente ao seu corpo, como se houvessem atado com grampos de ferro e não puderam encontrar sua abertura, quando removeram o cadáver.

-        Em seguida, passou-se a conduzir o morto até seu túmulo. Quando chegaram até ele e estavam já preparados para abrir sua entrada e colocá-lo junto aos restos de seu pai, veio-me à mente a lembrança do dia em que me levou até o Egito e das grandes preocupações que assumiu por mim.

-        Não pude deixar de atirar-me sobre o seu corpo e chorar por um longo tempo, dizendo:


XXVIII

Exclamações de Jesus

-        Ó morte, de quantas lágrimas e lamentos és causa! Esse poder, porém, vem d'Aquele que tem sob o seu domínio todo o universo. Por isso tal reprovação não vai tanto contra a morte senão contra Adão e Eva. A morte não atua nunca sem uma prévia ordem de meu Pai. Existem aqueles que viveram mais de novecentos anos e outros ainda muito mais tempo. Entretanto, nenhum deles disse: eu vi a morte ou a morte vinha de tempos em tempos atormentar-me. Senão que ela traz uma só vez a dor e, ainda assim, é meu bom Pai quem a envia. Quando vem em busca do homem, ela sabe que tal resolução provém do céu. Se a sentença vem carregada de raiva, a morte também se manifesta colérica para cumprir sua incumbência, pegando a alma do homem e entregando-a ao seu Senhor. A morte não tem atribuições para atirar o homem ao inferno nem para introduzí-lo no reino celestial. A morte cumpre de fato a missão de Deus, ao contrário de Adão, que ao não submeter-se à vontade divina, cometeu uma transgressão. Ele irritou meu Pai contra si, por haver preferido dar ouvidos a sua mulher, antes de obedecer à sua missão. Assim, todo ser vivo ficou implacavelmente condenado à morte. Se Adão não houvesse sido desobediente, meu Pai não o teria castigado com esta terrível sina. O que impede agora que eu faça uma oração ao meu bom Pai para que envie um grande carro luminoso para elevar José, a fim de que não prove das amarguras da morte e que o transporte ao lugar de repouso, na mesma carne que trouxe ao mundo, para que ali viva com seus anjos incorpóreos? A transgressão de Adão foi a causa de sobreviverem esses grandes males sobre a humanidade, juntamente com o irremediável da morte. Embora eu mesmo carregue também esta carne concebida na dor, devo provar com ela da morte para que possa apiedar-me das criaturas que formei.


XXIX

 O Enterro

-        Enquanto dizia essas coisas, abraçado ao corpo de meu pai José e chorando sobre ele, abriram a entrada do sepulcro e depositaram o cadáver junto ao de seu pai Jacob. Sua vida foi de cento e onze anos, sem que ao fim de tanto tempo um só dente tivesse estragado em sua boca ou sem que seus olhos se tornassem fracos, senão que todo o seu aspecto assemelhava-se ao de um afetuoso menino.

-        Nunca esteve doente, senão que trabalhou continuamente em seu ofício de carpinteiro, até o dia que sobreveio a doença que haveria de levá-lo ao sepulcro.


XXX

Contestação dos Apóstolos


Quando nós, os apóstolos, ouvimos tais coisas dos lábios de nosso Salvador, pusemo-nos em pé, cheios de prazer e passamos a adorar suas mãos e seus pés, dizendo com o êxtase da alegria:

-  Damos-te graças, nosso Senhor e Salvador, por te haveres dignado a presentear-nos com essas palavras saídas de teus lábios. Mas não deixamos de admirar, ó bom Salvador, pois não entendemos como, havendo concedido a imortalidade a Elias e a Enoch, já que estão desfrutando dos bens na mesma carne com que nasceram, sem que tenham sido vítimas da corrupção, e agora, tratando-se do bendito ancião José, o Carpinteiro, a quem concedeste a grande honra de chamá-lo teu pai e de obedecê-lo em todas as coisas, a nós mesmos nos encarregaste: quando fordes revestidos da mesma força, recebereis a voz de meu Pai, isto é, o Espírito Paráclito, e sereis enviados para pregar o evangelho e pregai também ao querido pai José. E ainda: consignai estas palavras de vida no testamento de sua partida deste mundo e lê as palavras deste testamento nos dias solenes e festivos e quem não tiver aprendido a ler corretamente, não deve ler este testamento nos dias festivos. Finalmente, quem suprimir o adicionar algo a estas palavras, de maneira a fazer-me embusteiro, será réu de minha vingança. Admira-nos, repetimos, aquele que, havendo chamado teu pai segundo a carne, desde o dia em que nasceste em Belém, não lhe tenhas concedido a imortalidade para viver eternamente.


XXXI

 Resposta de Jesus

Nosso Salvador respondeu, dizendo-nos:

-        A sentença pronunciada por meu Pai contra Adão não deixará de ser cumprida, já que este não foi obediente aos mandamentos. Quando meu Pai destina a alguém ser justo, este vem a ser imediatamente o seu eleito. Se um homem ofende a Deus por amar as obras do demônio, acaso ignora que um dia virá a cair em suas mãos se seguir impenitente, mesmo se lhe concederem longos dias de vida? Se, ao contrário, alguém vive muito tempo, fazendo sempre boas obras, serão exatamente elas que o farão velho. Quando Deus vê que alguém segue o caminho da perdição, costuma conceder-lhe um curto prazo de vida e o faz desaparecer na metade dos seus dias. Quanto aos demais, hão de ter o exato cumprimento das profecias ditadas por meu Pai acerca da humanidade e todas as coisas hão de suceder de acordo com elas. Haveis citado o caso de Enoch e Elias. Eles, dizeis, continuam vivendo e conservam a carne que trouxeram a este mundo. Por que, então, em se tratando de meu pai, não lhe permiti conservar seu corpo? Então eu digo que, mesmo que houvesse chegado a ter mais de dez mil anos, sempre incorreria na mesma necessidade de morrer. Mais ainda, eu asseguro que sempre que Enoch e Elias pensam na morte, desejariam já havê-la sofrido a verem-se assim, livres da necessidade que lhes é imposta, já que deverão morrer num dia de turbação, de medo, de gritos, de perdição e de aflição. Pois haveis de saber que o Anticristo há de matar esses homens e de derramar seu sangue na terra como água de um copo por causa das incriminações que lhe imputarão, quando os acusarem.


XXXII

 Epílogo


 Nós respondemos, dizendo:

-        Nosso Senhor e Deus, quem são esses dois homens, dos quais disseste que o filho da perdição matará por um copo de água?

Jesus, nosso Salvador e nossa vida, respondeu:

-        Enoch e Elias. Ao ouvir essas palavras da boca de nosso Salvador, se nos encheu o coração de prazer e de alegria. Por isso lhe rendemos homenagens e graças como nosso Senhor, nosso Deus e nosso Salvador, Jesus Cristo, por meio de quem vão para o Pai toda a glória e toda a honra juntamente com Ele e com o Espírito Santo vivificador, agora, por todo o tempo e pela eternidade das eternidades.


Notas:

[1] Epep era o mês copta que ia de 25 de junho a 24 de julho. Assim sendo, a data citada corresponde ao dia 20 de julho.

[2] Salomé foi a parteira que acompanhou a sagrada família ao Egito. Para maiores detalhes, leia o Proto-Evangelho de Tiago.




Fim