segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Sta. Brígida Liv 2/Cap 9

Palavras de Cristo à esposa dando uma explicação do capítulo anterior, e sobre o ataque do demônio ao cavaleiro previamente mencionado e sobre sua terrível e justa condenação.


Toda a extensão dessa vida é somente uma hora para mim. Assim, o que estou te dizendo agora sempre esteve em minha presciência. Falei-te anteriormente sobre um homem que iniciou na cavalaria, e sobre outro que desertou dela como um infame. O homem que desertou das fileiras da verdadeira cavalaria jogou seu escudo sobre meus pés e sua espada a meu lado, quebrando suas promessas e votos sagrados. O escudo que ele jogou simboliza nada mais do que a verdadeira fé pela qual ele se defenderia dos inimigos de sua alma e da fé.

Os pés, com os quais caminho em direção à humanidade, simbolizam nada mais do que o deleite divino pelo qual atraio uma pessoa a mim e a paciência com a qual constantemente o sustento. Ele jogou este escudo ao chão quando entrou em meu santuário, pensando consigo mesmo: quero obedecer ao senhor que me aconselhou a não praticar abstinência, aquele que me deixa ouvir coisas agradáveis aos meus ouvidos. Foi dessa maneira que ele jogou ao chão o escudo da minha fé por querer seguir seu desejo egoísta ao invés de mim, por amar a criatura mais do que o Criador.

Se ele tivesse tido uma fé correta, se tivesse acreditado que Eu sou todo-poderoso, um correto juiz e doador [Jo 5.22] de glória eterna , ele não teria desejado nada além [Êx 12.1-20] de mim, não teria temido nada além [Dt 6.9] de mim. Porém, ele jogou sua fé aos meus pés, desprezando-a e contando-a como nada, porque ele não procurou me agradar e não teve consideração à minha paciência. Então ele jogou sua espada ao meu lado. A espada simboliza nada mais que o temor a Deus, que o verdadeiro cavaleiro de Deus deve continuamente ter em suas mãos, ou seja, em seus atos. Meu lado simboliza nada mais que o cuidado e proteção com os quais Eu protejo e defendo meus filhos, como uma galinha protegendo seus pintinhos [Lc 13.34], para que o demônio não lhes faça mal e que nenhuma tentação insuportável venha sobre eles.

Mas aquele homem jogou fora a espada do meu temor sem se incomodar em pensar em meu poder e sem ter nenhuma consideração por meu amor e paciência.

Ele a jogou no chão ao meu lado, como se dissesse: “Eu não temo e nem ligo para a sua defesa. Eu consegui o que tenho através de meus próprios atos e minha nobre descendência”. Ele quebrou a promessa que fez a mim. Qual é a verdadeira promessa pela qual um homem está ligado por votos a Deus? Com certeza, são as ações de amor; qualquer coisa que uma pessoa faz, deve fazer por amor a Deus. Mas, isso ele pôs de lado, ao trocar seu amor a Deus pelo amor-próprio; preferiu seu egoísmo ao deleite futuro e eterno.

[nt : o amor-próprio de Cristo na Cruz, foi realizar a vontade do Pai [Mt 26.42] ... frente a todas as acusações espirituais de se transformar numa Neustã na realização da Palavra [do artífice : Is 40.20 ; 44.13,15] , o que repete-se em Seu Retorno, em ambas as Formas da Cruz por Sua Vontade [Jo 4.34 ; 5.30 ; 6.38 ; 17.24] ; daqui por diante no texto, o despenhadeiro de Mc 5.13].

Dessa forma, separou-se de mim e deixou o santuário da minha humildade. O corpo de qualquer cristão guiado pela humildade é meu santuário. Aqueles guiados pelo orgulho não são meu santuário, são o santuário do demônio que os conduz na direção do desejo mundano com seus próprios propósitos. Tendo saído do templo da minha humildade, e tendo rejeitado o escudo da santa fé e a espada do temor, ele caminhou orgulhosamente para os campos, cultivando toda cobiça e desejo egoísta, desprezando o temor a mim e crescendo em pecado e luxúria.

Quando chegou ao final de sua vida e sua alma deixou o corpo, os demônios saíram para encontrá-lo. Três vozes do inferno puderam ser ouvidas falando contra ele. A primeira disse: “Não é este o homem que desertou da humildade e nos seguiu no orgulho? Se seus pés puderam levá-lo ainda mais alto em orgulho a ponto de nos ultrapassar e ter a primazia em orgulho, ele foi rápido em fazer isso”. A alma respondeu: “Eu sou este homem”. A Justiça respondeu: “Esta é a recompensa pelo seu orgulho: você descerá de mãos dadas com um demônio até alcançar a parte mais baixa do inferno. E dado que não há demônio que não saiba seu castigo particular e o tormento a ser infligido por cada pensamento e ato desnecessário, nem tu escaparás do castigo nas mãos de cada um deles, mas partilharás da malicia e maldade de todos eles”. A segunda voz gritou, dizendo: “Não é este o homem que se afastou de seu serviço professo a Deus e uniu-se às nossas fileiras?”

A alma respondeu: “Eu sou este homem”. A Justiça disse: “Esta é tua agregada recompensa: que cada um que imitar tua conduta como cavaleiro se unirá à tua punição e sofrimento pela tua própria corrupção e dor, e irá lhe golpear na sua vinda com uma ferida mortal. Tu serás como um homem atormentado por uma severa ferida, realmente serás como um atormentado com ferida após ferida, até que teu corpo esteja repleto de feridas, que causam sofrimento intolerável e lamentarás constantemente tua sorte. Mesmo assim, experimentarás miséria após miséria. No auge de tua dor, ela será renovada, e tua punição nunca acabará e tua angústia nunca diminuirá”. A terceira voz gritou: “Não é este o homem que trocou seu Criador pelas criaturas, o amor de seu Criador por seu próprio egoísmo?” A Justiça respondeu: “Certamente é ele”.

Assim, dois buracos serão abertos nele. Através do primeiro entrará cada punição merecida desde seu menor pecado até o maior deles, na medida em que trocou seu Criador por sua própria luxúria. Através do segundo, entrará cada tipo de dor e vergonha, e nenhuma consolação divina ou caridade entrará nele, na medida em que amou a si mesmo em lugar de seu Criador. Viverá eternamente e sua punição durará para sempre, pois todos os santos se afastaram dele”. Minha esposa, veja quão miseráveis serão essas pessoas que me desprezam, e quão grande será a dor que eles compraram ao preço de tão pequeno prazer!”.











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próximo : Cap. 10
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